sábado, 30 de abril de 2011

Cedotardar



Tenho no peito tanto medo,
É cedo
Minha mocidade arde,
É tarde
Se tens bom-senso ou juízo,
Eu piso
Se a sensatez você prefere,
Me fere
Vem aplacar esta loucura,
Ou cura
Faz deste momento terno,
Eterno
Quando o destino for tristonho,
Um sonho
Quando a sorte for madrasta,
Afasta

Não, não é isto que eu sinto,
Eu minto
Acende essa loucura
Sem cura
Me arrebata com um gesto
Do resto
Não fale, amor, não argumente
Mente

Seja do peito que me dói,
Herói
Se o seu olhar você me nega
Me cega
Deixa que eu aja como louco,
Que é pouco
No mais horroroso castigo,
Te sigo
                                                                                                            Tom Zé

A terra não gira mais em torno do sol.



Dente de leão me lembra nuvem.

Quando as nuvens tapam o sol o girassol não gira,

Se os dentes de leão tapar o girassol será que o sol não brilha?

As gotículas de chuva que cai me fazem chover como uma caricia na alma.

O céu continua no ar, as nuvens continuam rodando como algodões d’água.

E a terra esta até tonta de tanto girar na adrenalina constante de 1770k por hora.

A terra não quer mais ter a obrigação de girar, para e observa... Arregala e estufa.

Como se fosse lógico ela resolveu quicar e quicar, para girar em torno de outro lugar.

Não dá mais pra sair por ai atrás da aurora.

E seu limite do céu já foi alcançado?

A altura depende do ponto de vista.

A terra não gira mais em torno do sol.

Só gira em torno de si, não mais de ti, de ti!

Cada um sabe de si.

Lua nem mais tímida.

Os girassóis não têm mais motivo para girar.

                                                                  Amanda Balice

                                                                                                  tetodear.blogspot.com

Valsar

Toma-me valsa
Nua e descalça
Sê em meu corpo
Deus ou José

Um dois três, sim
Senhor, oh não,
Dois três, pé-ante-pé

Um dois serei
De vinho e pão
Maria em Nazaré

Toma-me valsa ...

                                    Tom Zé

Tangolomango



Rico chega na dança
de braço dado
O diabo enche a pança
de braço dado
O olho grande e a ganância
de braço dado
Ao dólar reverência
todo arriba-saiado
Aos juros, esconjuros
todo calça-arriado
Isso é o tangolomango
O rico hoje, coitado,
É preso, todo cercado
Arrodeado de grades
Porteiroguarda e alarme
Arranje, Senhor, um porto
Que ele não 'steja acuado
Com um pouco de conforto
Pra ele estar sossegado
Mas a verbá, a verbé,
A verborrologia dessa politimerdia
É o tangolomango
E a cárdio-filosoporria
É o tangolomango
Bis E é nesse tangolomango
Que me voy pal pueblo
                                                    Tom Zé

De olho no lago

 
No lago do olho
De lado no lodo
De olho no lado
No lodo do lago
Lágrima afunda
Profunda lama
Olho
Lodo
Lado
Lago
Lama

                                                     Tom Zé


Sei que o seu relógio
Está sempre lhe acenando BIS
Mas não buzine
Que eu estou paquerando
Eu sei que você anda
Apressado demais
Correndo atrás de letras,
Juros e capitais
Um homem de negócios
Não descansa, não:
Carrega na cabeça
Uma conta-corrente
Não perde um minuto
Sem o lucro na frente
Juntando dinheiro,
Imposto sonegando,
Passando contrabando,
Pois a grande cidade não pode parar (BIS)
Sei que o seu relógio está sempre lhe acenando,
Mas não buzine, que eu estou paquerando
A sua grande loja
Vai vender à mão farta
Doença terça-feira,
E o remédio na quarta,
Depois em Copacabana e Rua Augusta,
Os olhos bem abertos,
Nunca facilitar,
O dólar na esquina
Sempre pode assaltar
Mas netos e bisnetos
Irão lhe sucedendo
Assim, sempre correndo,
Pois a grande cidade não pode parar,

                                                        Tom Zé


Fique à vontade
Tiau, good bye,
Ainda é cedo,
Alô, como vai?
Com Marcelino vou estudar
Boas maneiras
Pra me comportar.
Primeira lição: deixar de ser pobre,
Que é muito feio.
Andar alinhado
E não freqüentar, assim, qualquer meio.
Vou falar baixinho,
Serenamente, sofisticadamente,
Para poder com gente decente
Então conviver.
Fique à vontade, .... .... etc.
Da nobre campanha
Contra o desleixo
Vou participar
Pela elegância e a etiqueta
Vou me empenhar
Entender de vinhos, de salgadinhos,
Esnoberrimamente,
Trazer o País
sob um requinte intransigente.
Fique à vontade, ... ..., etc.
  
                                                     Tom Zé